quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

reflexões pós terapia

 tenho que escrever um texto para o blog de um cliente do trabalho, estou há dias tentando. ontem na terapia eu não conseguia dizer o motivo de não conseguir escrever esse texto, fui procurando motivos como sempre faço quando não consigo fazer algo e voltei no tempo.

quando eu era criança eu era muito pequena e muito nova na escola, consequentemente muito inteligente e estudiosa, as pessoas se encantavam com aquele toco de gente já na quarta série, era assim que se chamava nos anos 90. Eu recebia muitos elogios na escola, só que na quinta série, minha mãe era minha professora de português e eu tirei a maior nota no fim da unidade, todos chocados e incrédulos - inclusive minha mãe, que exclamou: vão achar que estou ajudando ela! - frase que bastou pra eu me tornar a pior aluna da sala.

não estudava mais, não queria tirar mais notas altas, não queria ser exemplo de aluna, tudo o que eu queria era não deixar que as pessoas achassem que ela estava me ajudando por ser minha mãe, ali eu dividi mãe de professora tão intensamente que na sala de aula eu agia como a pior aluna para que ninguém me associasse a ela, pelo contrário, percebesse que ela não me ajudava, daí a justificativa das notas baixas.

esse período na minha vida se estendeu até hoje, aos nove anos parei de tentar, hoje com trinta me vejo deixando as oportunidades passarem com medo de ir bem, com medo de dar certo, com medo de tirar a maior nota e ser cancelada, definição atual de bulling. 

fico pensando se eu tivesse ali continuado me esforçando se eu teria autoestima hoje, de me achar boa em alguma coisa, de pensar que eu consigo fazer, de esse texto, que estou desde o início do mês tentando entregar, sair, sem medo de ficar ruim demais, sem medo de minha chefe achar um lixo ou achar que copiei de algum lugar, sendo que ela nem é assim...

os medos me paralisam e minha autoestima não existe, eu realmente preciso gostar de mim, preciso procurar coisas que me façam me amar, não encontro e me perco nessa busca incessante do autoamor, é muito cansativa a busca do autoconhecimento e estou monotemática por isso.

estava pesquisando o que escrever para os algoritmos acharem o texto que vou fazer, estou muito cansada de tudo isso. não aguento mais as vezes, mas espero aguentar até dar certo.

sábado, 7 de janeiro de 2023

"about fate" comédia romântica da prime video (com spoiler)

quando a gente deita numa tarde chuvosa e quer ver um filme gostoso "about fate" é o certo pra isso. uma comédia romântica que não foge dos clichês apaixonados, com idas e vindas e final feliz.

um casal que ainda não é casal se encontra por obra do destino e a partir de então suas vidas que eram completamente opostas começam a fazer todo sentido se ficarem juntos e isso vai se desenrolando com todos os desencontros que uma comédia romântica precisa para ser engraçada e apaixonante ao mesmo tempo.

o jogo de câmeras faz parecer que eles já se conhecem no início do filme, mas isso só vai acontecer depois por um acaso (ou destino?), cenas inusitadas e até simples demais, no que tange a produções grandes, colaboram para que as pequenas coisas apontem o caminho que eles devem seguir.

gosto de filmes de fim de ano envolvendo encontros e reencontros, mas não sei se gosto muito de todos esses filmes não fugirem do padrão hollywoodiano de protagonistas loiras, com melhor amiga negra, aquele arquétipo de negro mágico que surge apenas para ser engraçado ou salvar a personagem principal, isso me irritou um pouco e por pouco eu não assistia ao filme só por causa disso, rs.

por fim, gostei da narrativa e o modo como a própria história ouvida por eles fez com que ficassem juntos no fim, terminando leve, gostosinho e do jeito que eu queria nessa tarde chuvosa.

filme "as linhas tortas de deus"

 Um filme de terror psicológico eu diria, comecei assim antes de falar o enredo. É um filme espanhol inspirado por um livro homônimo, dirigido por Oriol Paulo.  Uma detetive se passa por uma interna de um sanatório para tentar desvendar um assassinato que aconteceu lá dentro. Até agora estou impactada com o filme cheio de flashbacks que se confundem com sonhos e alucinações.

A única pessoa que sabia de seu disfarce (e diretor do hospital) a contradiz e é aí que ela passa a ser confundida com uma interna, é submetida a tratamento de choque e todas aquelas arbitrariedades que aconteciam em hospitais psiquiátricos nos anos 80. 

Filmes espanhóis são muito intensos e sofridos, eu diria, as expressões são muito emocionadas e dramáticas e os atores carregam esse peso da ação concreta, o que torna tudo ainda mais interessante já que o filme (acredito que propositalmente) me faz questionar "estou doida ou isso aconteceu mesmo?", tanto é que um grande plot no final mostra a cena inicial e confunde ainda mais quando não se descobre realmente se a detetive é louca ou se ela realmente foi investigar algo.

Um filme intenso, roteiro amarrado, atores incríveis, fotografia impecável, eu recomendo para quem gosta de filme de suspense, mas se você não está afim de sofrer emocionalmente e esperando um final feliz e florido, não assista. 

terça-feira, 6 de setembro de 2022

apática

 sabe o coração doendo e a cara fechada?

fechada mesmo, não entra nada. 

nem gosto nem desgosto, seguindo o dia como quem vai de ônibus, tem que descer onde ele parar.

sem opções, elas também dormiram, porque se você não faz, elas não são feitas, ciclos.

cara fechada, ódio, queria esmurrar a parede e quebrar as mãos.

quero fazer doer pra doer menos, sabe?

terça-feira, 30 de agosto de 2022

viajamos

Saímos de Guanambi à tarde, o sol quente daqui que nos é costumeiro, e partimos voando para Belorizonte. Cheguei lá e fiquei com vontade de escrever, essa escrita descompromissada que não arranca pedaço, sabe. Coloquei meu nome errado na passagem do avião, mas sobrevivemos, uma hora e meia do aeroporto até o hotel, passamos pelo apuro de não saber se nossas reservas estavam feitas ou não, seguimos e conseguimos.

Ao sair pra esquecer um pouco todos os percalços que tínhamos enfrentado até ali, esquecemos o telefone no táxi. Amo falar por dois, estamos nessa viagem eu e João, meu amor. Esquecemos, ligamos, ligamos, ligamos o taxista atendeu e trouxe pra gente de volta, João respirou aliviado e deu uma boa gorjeta pra ele, que grato, nos passou seu telefone para posteridade.

Fomos pro restaurante, João ainda nervoso pelo susto, eu tentando relaxar fui de chopp, ele quis água, já nos acostumamos a viajar juntos, ele é calmo, eu sou um turbilhão, a todo momento procuro o pior do que pode acontecer pra eu tentar prever um futuro que sempre (sem exceção) nos prega peças e eu preciso parar de uma vez a tentar prever.

Voltamos pro hotel, fomos descansar, a minha cabeça fervia a mil, esperando pelo próximo desatino do destino, mas tentei relaxar e curtir os poucos dias mineiros que nos restavam, ah, amanhã seria o festival tão esperado que eu há tempos queria ir e arrastei João comigo, obviamente.

Acordamos, fomos tomar café na cafeteria ao lado do hotel, pão de queijo recheado com pernil e queijo coalho, não sou muito de novidades, prefiro o previsível, mas ali achei que seria bom arriscar e amei. João, taurino como eu, ficou no misto e leite com chocolate mesmo.

Resolvemos conhecer algo turístico, volto a dizer, somos taurinos da gota, o festival começava às 12, então nossa logística foi "vamos conhecer alguma coisinha pra voltar logo e não perder a hora..." os compromissos que fazemos são muito taurinos, ai como eu amo esse relacionamento... Passeamos a pé pelas ruas, me senti em São Paulo, cidade que tanto amo, ruas bonitas, construções centenárias, todos os cenários me inspiravam, era pra ter escrito no momento, mas me perdi na vista.

Chegamos na praça da liberdade, outros turistas como nós, garotos vendendo balas, artistas se expressando, famílias com cinco filhos, encarreirados como patinhos a dançar, e a gente lá, caminhando e contemplando nos minutos que nos propusemos a apreciar. Logo menos voltamos e começamos a nos arrumar pros shows.

Prontos, chamamos um táxi, ele corria tanto que parecia um cenário de fuga, eu coloquei o cinto e fechei os olhos, logo chegamos no Mineirão (logo não, depois de uns bons 40 minutos), paramos perto da porta, comi um cachorro quente no trailer, e partimos para a entrada. 

Aquele lugar me encantou, eu amo show, amo apresentações e me esqueci de passar protetor solar. O sol de meio dia parecia bater palmas e Gilsons entrou no palco. Extasiada cantava, dançava e me enchi de felicidade, só conseguia sorrir, peguei uma bebida Xeque-mate, não me lembro direito do que é feita, mas tem gosto de matte gelado.

Marina Senna entra no palco, eu não dava nada e a bichinha canta e faz todo mundo cantar junto, sem saber nem uma música dela, me joguei e dancei junto. Pabllo uma das minhas atrações esperadas apareceu, eu fiquei muito feliz e realizada, amo shows e sou muito tiete, na segunda música alguém puxou a corrente do pescoço de João e nessa hora o meu brilho foi sumindo aos poucos.

Chegou o outro acontecimento que eu estava esperando pra acabar com meu dia, Emicida ainda ia cantar e eu estava tão triste que nem conseguia ficar ansiosa. Zeca Pagodinho cantou, fui bebendo mais Xeque-Mate, João seguia tristinho e tentando ficar bem por mim, eu sambei um pouquinho e fiquei agarrada no pescoço de meu amor, afim de diminuir o aperto no peito. Furto é uma coisa tão chata, quebra as pernas.

Emicida entrou, eu estaria mais feliz na beira do palco, mas não foi o melhor momento pra viver esse show, espero ir de novo e estar inteira pra me esbaldar de suas poesias ritmadas e tão sinceras. O show terminou e fomos embora com o mesmo taxista da vinda, o ser humano corre e eu pensei que ali seria o próximo desatino da viagem, mas dessa o destino nos poupou, chegamos em casa (hotel) bem.

Eu ainda triste, João de poucas palavras, mas sempre calmo e positivo, tomamos banho e fomos dormir praquele dia acabar logo. Percebi uma leve insolação, meu braço estava vermelho vivo do sol de meio dia, mais uma intempérie para os dias de Jaíce, a louca dos desastres.

De manhã dormimos, nosso voo seria às 13h e pra gente já tava bom de aventura, ficamos na cama, descemos pra tomar café, comi, voltamos pra nos arrumar e 10h já chamamos nosso amigo Leonardo, que nos trouxe o celular de volta noutro dia. Ele mais calmo, no caminho foi mostrando pontos turísticos da cidade. Nos despedimos e ele disse que voltássemos, quem sabe com um bebê na barriga, rimos.

A hora de voar chegou, eu morro de medo de altura e morro de medo de avião, acho que esqueci de mencionar esse pequeno detalhe. Tomei metade de um dramin, João, a outra metade, entramos, eu me agarrei na mão dele e levantamos um voo que parecia que não terminaria nunca, mas terminou, uma hora e meia depois, estávamos em Guanambi, com sol escaldante e cheiro de casa, pousamos.

Essa história atípica me trouxe o gosto de escrever em primeira pessoa. João me trouxe a autoestima de me achar interessante e voltar as palavras pra mim. Belo Horizonte me abriu os olhos para contemplar história. Hoje estou um pouco doente, acredito que sequelas da insolação, tenho que trabalhar, já são 10:55.

sábado, 28 de novembro de 2020

dor

Texto escrito em 15 de abril de 2017


 Tem horas que a gente sente uma dor tão grande na alma que o corpo parece querer expelir, com força, com toda a energia que ele não tem mais. A gente passa por tanta coisa na vida né, e os ais de uma pessoa são completamente diferentes de outras e eu me pergunto se eu posso mesmo sofrer sendo que tem gente que tá sofrendo mais que eu. Tem gente que não tem uma cama pra deitar e chorar. Mas eu mesma me respondo, no meio do desespero do meu coração acelerado sem motivo, eu me respondo que eu posso ter criado o meu sofrimento, mas ele não é meu, não faz parte de mim, e eu sofro porque eu não consigo fazer com que ele vá embora e apesar de tanta gente estar sofrendo pra porra porque não tem comida pra amanhã, eu aqui dentro de mim, não estou me aguentando agora. Meu coração quer vomitar, minha alma quer vomitar, não consigo nem chorar e nem pedir socorro, eu tô presa em mim e esse sofrimento eu não escolhi, eu não desejei e quero que ele vá embora. Eu acho que a gente tem que falar o que sente, exatamente quando sente, porque quando passa, a importância não é mais a mesma, o sofrimento aumenta e a gente não tem o que fazer, a não ser suplicar a qualquer força superior que esteja ouvindo que sare essa dor.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

2 de novembro

 Hoje não brinquei com meu cachorro, não fui ver meu afilhado, não fui ao cemitério colocar flores, não fiz nada do que era pra ter feito.

Voltar a escrever está me dando gatilho, é só isso que se fala atualmente, estamos no fim de 2020 e gatilho é a palavra chave.

Hoje meu irmão faz aniversário.

Sinto que por eu não ter feito nada do que era pra eu ter feito no dia de hoje eu sou menos gente. E não sei onde termina ou começa, só vou deixando as coisas irem, como se  pegasse areia fina nas mãos.

Eu não queria sentar com meus pais, eu não queria ficar conversando com meus amigos, não queria ler, não queria nada do que é pra ser querido. Eu não queria e esse não querer grita tão alto, eu nem sei lidar.

 Eu nem rezo mais. Nem sei mais o que é sentir um lampejo no coração quando faço uma oração, porque já não faço mais.

Não sinto saudades do que já fui, mas sinto que eu me perdi, sinto que não me sou mais. Eu costumava ter uma cadência de acontecimentos, costumava ponderar as expectativas, e também era muito engraçado quando eu imaginava coisas e apenas por imaginar, elas não aconteciam. 

Hoje eu não sei mais. Me jogar do abismo é o mesmo que ficar onde estou, onde começa e acaba, onde parece não existir mais verdades ou sentidos.

Não sei se é sobre expectativas, não sei se é sobre desejos, não sei sobre o que é. As palavras me saem choradas, parece que tô arrancando com foice e ao contrário do que também pensei, não tá doendo, mas tá cortando. É como sentir aquela dorzinha no ombro e apertar pra doer mais. Parece que é um novo término que pode ser mais um começo. Eu não sei direito.