Querido diário, eu estou cansada!
Paralela à dor, a vida segue —
como sempre pode acontecer. Pessoas inteiras, com braços, pernas, pensamentos e
vontades próprias, acabam soterradas pela depressão. Que sentimento invasivo,
que azar, que ausência sem nome. O que é preciso para sarar, para curar? Quando
um sintoma é tratado, logo outro se apresenta. O que isso quer dizer?
Todos estavam caídos, cada um de
um lado, sem saber o que havia provocado aquela queda quase sublime. Deitados
na relva, buscavam apenas sentir algo, qualquer coisa. Porque aquilo que
sentiam doía demais. Uma dor ridícula, enganosa, que finge devolver algo, mas
não devolve nada. Tudo se confunde, e parece que o mundo inteiro se coloca
contra. O estado de vigilância se torna tão intenso que chega a doer ainda
mais.
É como se fosse infância ainda,
ou aquela adolescência torta, mal-ajustada, que todo mundo aponta o dedo e
condena. Escrevo com comiseração, como se ardesse nos dedos cada letra, cada
tentativa de colocar em palavras o que se deixa prender. Queria tanto saber
escrever direito, mas o que sai é cuspido, é escarrado, e vai descendo pela
tela como se fosse me engolindo.
É uma dor estranha: não me
paralisa, mas me afoga devagar. Submersa, sem respiração, sem nada que sirva de
ar. Chega uma hora em que nada satisfaz, nada consola. E aí sobra só essa dor
ridícula, que não tem nome, não tem fim, e insiste em se repetir.