segunda-feira, 28 de agosto de 2017

não posso julgar a realidade que eu não vivo

É muito fácil pra mim entender que as pessoas podem se amar. Que dois homens podem se apaixonar. Que duas mulheres podem viver uma história. Que um menino nasce menino, mas não se sente menino, e vice versa. E eu não faço parte de nenhuma dessas categorias. Eu queria saber porque tem tanta gente que acha difícil entender isso. Queria saber o motivo de ter pessoas que falem "isso é errado". Errado porque? Quem disse o que é certo? E porque o seu certo é realmente o certo? E se não for?
Eu acredito em Deus. Acredito na misericórdia suprema e que Ele é bom. Que pediu pra que nos amássemos. Acredito que ele não pune, não castiga nem se vinga. Ele quer que as pessoas sejam felizes independente de qualquer coisa. 
Algumas pessoas acham que todos tem que acreditar nas mesmas coisas que elas. Mas não. Deus também deu livre arbítrio, Ele disse que podemos acreditar e ser o que bem entendermos.
Uma pessoa que é gay não vai pro céu? Nem se ela tiver um bom coração, respeitar os outros, ajudar quem precisa?
Então ser hétero e julgar, e fazer o mal, ser desonesto pode?
Que tipo de deus é esse que andam apresentando? Um deus que escolhe, que castiga e faz as pessoas acreditarem que não são boas o suficiente para pertencerem ao reino glorioso?
QUEM É VOCE PRA DIZER QUE GAY NÃO VAI PRO CÉU?
Deus já perdoou, já libertou. Não precisa de mais nada além de praticar o bem, de ser honesto, de incentivar uma criança a continuar, de visitar uma pessoa doente com palavras de acalento, de respeitar os pais e ser justo. 
A gente precisa ser bom, parar de julgar, parar de achar que o outro vive uma vida errada sendo que nós mesmos estamos poluídos pela soberba do mundo. Não sejamos hipócritas.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

não sei lidar

Quando eu tinha seis anos o meu melhor amigo morreu. Acho que ele tinha uns setenta, era dono do supermercado que fica na esquina da minha casa, por isso todo dia a gente conversava, eu com minhas conversas de criança, ele com conversas de idoso, mas a nossa amizade era linda, isso ninguém podia negar.
No velório eu fiquei me perguntando como é que ele iria respirar quando enterrassem ele, como ele estava aguentando tanto algodão no nariz sem espirrar, eu não conseguia entender, mas aí mainha me explicou que ele tinha morrido, que iria pro céu e que o mundo dos vivos tinha se acabado pra ele.
Eu fiquei tentando digerir o que minha mãe tinha dito, a saudade que eu sentia, o vazio que era passar em frente ao mercado e não falar com ele, mas eu não conseguia, só deixei o tempo passar. Eu não aprendi a lidar com a morte. Não consigo compreender porque a vida se acabou dele, porque ela não queria mais viver nele.

E depois disso nada mudou, outras pessoas importantes se foram, a gente reza querendo que a notícia não seja verdade, tenta se apegar a qualquer sentimento pra preencher o vazio, tenta não pensar em como vai ser o dia seguinte sem aquela pessoa que a gente ama. Não dá pra imaginar, não tem como mensurar tristezas, a gente apenas vai aprendendo a conviver com a dor e esperando que a saudade bonita tome seu lugar.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

projeções


Quando eu era criança projetava o meu futuro na minha mãe, queria ser como ela, gostava de amarelo por causa dela, gostava de Roberto Carlos que é o cantor favorito dela, vestia suas roupas, queria ser ela. O meu jeito de ser e de fazer as coisas também veio dela, no entanto somos profundamente diferentes. Combinamos em pontos opostos. Somos como a raiz do problema e a solução, é por isso que a gente dá certo. Acho que todo mundo tem alguém em que se projetar, nem que seja pelo corte do cabelo ou pelo tipo de filme que assiste. A gente quer ser alguém na vida, desde que a gente aprende que é preciso ser alguém na vida. Não basta nos espelhar em alguém que amamos e copiar personalidade, é preciso ser e ter mais que isso. O sistema obriga a gente a ser mais, e mesmo assim, por mais alto que se chegue, por mais longe que se vá, nunca é suficiente, o sistema quer mais, quer suor e sangue, quer cabeças rolando, competição, guerras, consumo. Não é preciso ser amante do socialismo pra entender que a gente pode querer outras coisas, que dá pra ser alguém na vida sem seguir um protocolo. Queria que as crianças crescessem acreditando na máxima que ser feliz é o melhor dos objetivos, não que seja pra largar tudo - o que é tudo? - e vender miçanga na praça, mas que se for pra fazer alguma coisa, que seja por amor, que traga felicidade, que ajude as pessoas a cuidar do mundo, que instigue os jovens a lutar por mudanças. Ser alguém na vida a gente já é, o olhar de pena não vai ajudar, as perguntas constrangedoras não vão ajudar, o que ajuda é ter a noção de que podemos ser o que quisermos ser independente de projeções que as pessoas colocam na gente.