Todas as aulas eram iguais, “ô diretora
pode descer, a sétima série não tem medo de você”. Nos respeitávamos e erámos
cúmplices uns dos outros, mas os professores, coitados, sofriam com aquela
turma. Digão era gordinho e muito engraçado e Geísa esquelética e com a
letra mais bonita da sala, viviam entre
tapas e beijos, um dia ele pulou em cima dela e os dois rolaram um pequeno
barranco de terra que tinha ao lado da sala, rimos todos.
Dayse e Cleia, melhores amigas,
os melhores trabalhos em grupo e apresentações sempre elas que faziam, a
despeito de Tiago e Rafaela – os melhores alunos da turma – que só tiravam 10 e
quando não, um 9.8. Mas quando todos se juntavam, incluindo ainda Gisa e
Naiane, era show na certa. Eu sempre procurava um jeitinho de entrar nesse
bolo, né.
Costumávamos combinar qual a
pirraça do dia pra aula de Madalena ou de Eunice, Laiane de um lado da sala
começava o “hmmmm” e parava quando Madá encostava nela, daí eu continuava do
outro lado, pra ela ficar zonza com o vaivém – Madá, eu não me orgulho disso,
saiba.
Marcinha e Liginha brigavam toda
semana, as duas se amavam, a gente até combinava roupa quando na escola ainda
não tinha uniforme, mas sempre qualquer desentendimento fazia eu ficar no meio,
não podia levar conversa nem pra uma nem pra outra, acho que aquela época me
preparou pra vida adulta, não foi fácil.
Danilo e Nanado sensações da
escola, as meninas das outras séries sempre vinham pra nossa janela admirá-los,
só que Nanado foi pra outra escola fazer a oitava série, 80% das meninas da
sala perderam seu colírio de cabelo loiro cortado em formato de sopeira (que
inclusive, deus benza que ele acordou pra vida e hoje em dia usa topete) e os
olhos azuis.
Era divertido quando alguma
professora desesperada gritava pedindo pra gente parar de gritar e alguém
cantava “pedi pra parar, parou” e todo mundo se aquietava, parecia mágica, mas
era só amizade mesmo, apesar de sermos péssimos alunos, éramos ótimos colegas,
acho que isso pode ser um ponto positivo, ne?
A oitava também era legal, mas já
sem Digão e Nanado. Teve uma apresentação em que rolou beijo de língua, ninguém
sabia, porém, que aquele seria o primeiro beijo de Rafael, enquanto Thaís já
sabia os truques dos beijos, tia Salu, coitada, começou a chorar enquanto todo
mundo admirava o fôlego de Rafael no seu primeiro beijo que durou quase cinco
minutos. Anos depois Rafael e Regimônica – que sempre se sentava no fundo - se
casaram e tiveram dois filhos.
Hoje em dia a maioria se casou,
teve filhos, fez faculdade, alguns tem empregos, outros desempregados (eu e
quem), alguns seguiram o que imaginavam que seguiriam outros nem sabem ainda o
que querem. Eu não sinto saudades do passado, mas dá uma nostalgia lembrar de
como tudo era grande e parecia não ter fim e de como era divertido viver a vida
intensamente sem preocupar com o amanhã.
Eu não sou fã de reencontro de
turma, mas seria muito legal saber das histórias que eles se lembram daquela
sétima série particularmente especial que rumava para o ensino médio há exatos treze anos.