segunda-feira, 25 de setembro de 2017

saiba

Talvez o mundo acabe amanhã e a gente não tenha trocado os últimos "eu te amo". E se isso acontecer, eu sei que tá claro, como a luz do dia. Se acabar, acabou, não é mesmo? Toda hora vejo mundos acabando, e muitos morrendo, outros sobreviventes não sabem nem como recomeçar, mas saiba que eu te amo. Saiba disso com convicção e certeza. Não que isso vá mudar a sua vida ou te trazer um orgulho velado, mas eu preciso que você saiba, que essa sua existência me fez uma pessoa muito melhor. Que as suas palavras me acalentam tanto quanto o seu abraço, obrigada. Te agradeço tanto. Todos os dias. Quero agradecer ainda mais, vai que o mundo acaba. Vai que não resta tempo pra dizer que, porra, te amo demais. Talvez o mundo já tenha acabado e a gente nem saiba. Talvez isso por que estamos passando seja apenas a ilusão de um mundo real, estamos vivendo em uma realidade aumentada onde quase nada é verdade, por isso me apego ao máximo ao que é, me apego em você. No amor que sinto, na verdade que a nossa entrega prega, nessa sinceridade sem querer nada em troca, nessa sintonia que temos que as vezes parece mágica (e nos sentimos surreais, é incrível né?), nisso tudo, cada pedacinho, tô apegada, não me solto, porque senão desabo. Você me protege e isso é vital, pode parecer até egoísmo meu, mas se você não existisse, eu não sei não viu, ia ser foda. Se realmente o mundo for acabar amanhã, isso tudo não tem sentido, mas dizem que o amor é a mais forte das forças, ainda não sabemos como o mundo vai acabar, se em fogo, água, preconceitos... só quero deixar claro, que você fez a minha existência fazer sentido, o sentido que sem você eu não consigo enxergar. o sentido.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Feliz aniversário, mãe.

"Seja forte. Não desanime. Você vai cair, mas toda vez que levantar terá um objetivo maior em mente".
Queria ser como você, mãe. Sem medo, ou ter esse sorriso que afasta o medo. Queria ter sua doçura pra falar das dores da vida, e queria ter a esperança que você tem. 
Você é tão bonita! Essa beleza que incendeia um lugar inteiro. Que além de bela é terna. É força. É luz. Sua beleza transcende o físico, mãe. Você é bonita de tudo, quem me dera ser assim. 
Eu gosto dos meus cabelos brancos só porque eles me fazem ficar parecida com você. Eu gosto do meu caminhado porque dizem que é igual ao seu. Eu gosto dos meus trejeitos porque lembra você. Eu amo ser parte desse infinito que é você. Cada dia que passa eu fico ainda mais feliz por saber que por onde eu for, o que eu fizer, o que eu falar, você vai estar comigo.
Você não julga. Você aprende todos os dias. Você pede abrigo quando a barra pesa. Você abraça e acalma quando a barra pesa. Você exige que as coisas sejam feitas como devem ser, dentro da lei - não a lei do mundo - mas dentro dos significados intermináveis que o amor ensina. 
Você não mede esforços. Não tem maldade. Não tem miséria. Você é a garota mais interessante que eu conheço. Você se reinventa e isso te faz ser ainda mais bonita. Como é que pode?
Todos os dias estamos juntas. Seja em oração ou em pensamento e esse estar me faz forte e me faz ser uma pessoa melhor. Eu preciso deixar claro que você é a pessoa que representa tudo o que eu quero ser um dia. Como mãe, como esposa, como tia, amiga, avó, madrinha, vizinha... Quero ser exatamente como você, tirando um pouco a brabeza, você sabe que sou bem bestinha as vezes né. 
Continue irradiando essa luz que ilumina tantos caminhos, alegra tantas vidas, sendo inspiração pra tanta gente. E continue sendo pra mim essa estrela cheia de esperança que me ensina a caminhar.
Feliz aniversário, mãe. Você é minha melhor amiga. Te amo além de tudo.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

"a vida é louca, o mundo é foda, mas nós tamo aí na luta"

Nesse mês de setembro em que se voltam as atenções para a prevenção ao suicídio, fiquei pensando em algumas coisas bem sombrias. Antes eu achava que suicídio era egoísmo, como assim uma pessoa se mata sem pensar nas outras pessoas que ficam. Olha só que cruel esse meu antigo pensamento. Ninguém sabe a história, as dores, as lembranças, os traumas, as tristezas que existem na cabeça do outro. Ninguém sabe o que o outro sente, o que o outro pensa, como esse outro lida com o mundo exterior e como lida com o universo que é a sua própria cabeça.
Precisamos nos despir de julgamentos, abraçar uma pessoa que pede ajuda, sentar, conversar, amparar, seja um familiar, um amigo ou simplesmente alguém que precisa conversar. Eu gostaria muito que formássemos uma grande corrente de empatia, onde as pessoas se sentissem confortáveis pra conversar, pra falar sobre medos, pra tentar colocar um pouco pra fora a loucura que temos por dentro. Senão a gente surta mesmo. É foda. É muito foda. Não despreze uma pessoa que tá triste, sempre tem um motivo. Não ridicularize quem fica quietinho no canto da sala de aula, sem conversar, você não sabe como foi seu dia, como é a sua vida em casa.
Se você nunca pensou em acabar com o sofrimento, acabar com algo que você acha que vai acabar com a morte, você não sabe como é esse sentimento e ainda bem que não sabe. Ainda bem que sua cabeça tá bem. Agora não ache que só porque você tá bem que todo mundo tá. As pessoas reagem de forma diferente aos acontecimentos da vida, e tudo bem, as pessoas são diferentes.
Há pesquisas que indicam que o suicídio é uma das 10 principais causas de morte, sendo que para cada suicídio ocorrem 11 tentativas sem sucesso. E as mesmas pesquisas mostram que 20% dessas pessoas que tentam suicídio, se não procurarem ajuda, tendem a repetir o ato em menos de um ano.

Então, eu não sou muito boa da cabeça não, mas ofereço minha atenção, ofereço minha ajuda, tô aberta a ouvir e tentar ajudar de alguma forma. Maria sempre fala: Você é importante. Josa sempre ressalta: você não está sozinho. E não está. Não estamos sozinhos. Vamos caminhar juntos. 


Fonte: https://oficinadepsicologia.com/suicidio-2/

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

não posso julgar a realidade que eu não vivo

É muito fácil pra mim entender que as pessoas podem se amar. Que dois homens podem se apaixonar. Que duas mulheres podem viver uma história. Que um menino nasce menino, mas não se sente menino, e vice versa. E eu não faço parte de nenhuma dessas categorias. Eu queria saber porque tem tanta gente que acha difícil entender isso. Queria saber o motivo de ter pessoas que falem "isso é errado". Errado porque? Quem disse o que é certo? E porque o seu certo é realmente o certo? E se não for?
Eu acredito em Deus. Acredito na misericórdia suprema e que Ele é bom. Que pediu pra que nos amássemos. Acredito que ele não pune, não castiga nem se vinga. Ele quer que as pessoas sejam felizes independente de qualquer coisa. 
Algumas pessoas acham que todos tem que acreditar nas mesmas coisas que elas. Mas não. Deus também deu livre arbítrio, Ele disse que podemos acreditar e ser o que bem entendermos.
Uma pessoa que é gay não vai pro céu? Nem se ela tiver um bom coração, respeitar os outros, ajudar quem precisa?
Então ser hétero e julgar, e fazer o mal, ser desonesto pode?
Que tipo de deus é esse que andam apresentando? Um deus que escolhe, que castiga e faz as pessoas acreditarem que não são boas o suficiente para pertencerem ao reino glorioso?
QUEM É VOCE PRA DIZER QUE GAY NÃO VAI PRO CÉU?
Deus já perdoou, já libertou. Não precisa de mais nada além de praticar o bem, de ser honesto, de incentivar uma criança a continuar, de visitar uma pessoa doente com palavras de acalento, de respeitar os pais e ser justo. 
A gente precisa ser bom, parar de julgar, parar de achar que o outro vive uma vida errada sendo que nós mesmos estamos poluídos pela soberba do mundo. Não sejamos hipócritas.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

não sei lidar

Quando eu tinha seis anos o meu melhor amigo morreu. Acho que ele tinha uns setenta, era dono do supermercado que fica na esquina da minha casa, por isso todo dia a gente conversava, eu com minhas conversas de criança, ele com conversas de idoso, mas a nossa amizade era linda, isso ninguém podia negar.
No velório eu fiquei me perguntando como é que ele iria respirar quando enterrassem ele, como ele estava aguentando tanto algodão no nariz sem espirrar, eu não conseguia entender, mas aí mainha me explicou que ele tinha morrido, que iria pro céu e que o mundo dos vivos tinha se acabado pra ele.
Eu fiquei tentando digerir o que minha mãe tinha dito, a saudade que eu sentia, o vazio que era passar em frente ao mercado e não falar com ele, mas eu não conseguia, só deixei o tempo passar. Eu não aprendi a lidar com a morte. Não consigo compreender porque a vida se acabou dele, porque ela não queria mais viver nele.

E depois disso nada mudou, outras pessoas importantes se foram, a gente reza querendo que a notícia não seja verdade, tenta se apegar a qualquer sentimento pra preencher o vazio, tenta não pensar em como vai ser o dia seguinte sem aquela pessoa que a gente ama. Não dá pra imaginar, não tem como mensurar tristezas, a gente apenas vai aprendendo a conviver com a dor e esperando que a saudade bonita tome seu lugar.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

projeções


Quando eu era criança projetava o meu futuro na minha mãe, queria ser como ela, gostava de amarelo por causa dela, gostava de Roberto Carlos que é o cantor favorito dela, vestia suas roupas, queria ser ela. O meu jeito de ser e de fazer as coisas também veio dela, no entanto somos profundamente diferentes. Combinamos em pontos opostos. Somos como a raiz do problema e a solução, é por isso que a gente dá certo. Acho que todo mundo tem alguém em que se projetar, nem que seja pelo corte do cabelo ou pelo tipo de filme que assiste. A gente quer ser alguém na vida, desde que a gente aprende que é preciso ser alguém na vida. Não basta nos espelhar em alguém que amamos e copiar personalidade, é preciso ser e ter mais que isso. O sistema obriga a gente a ser mais, e mesmo assim, por mais alto que se chegue, por mais longe que se vá, nunca é suficiente, o sistema quer mais, quer suor e sangue, quer cabeças rolando, competição, guerras, consumo. Não é preciso ser amante do socialismo pra entender que a gente pode querer outras coisas, que dá pra ser alguém na vida sem seguir um protocolo. Queria que as crianças crescessem acreditando na máxima que ser feliz é o melhor dos objetivos, não que seja pra largar tudo - o que é tudo? - e vender miçanga na praça, mas que se for pra fazer alguma coisa, que seja por amor, que traga felicidade, que ajude as pessoas a cuidar do mundo, que instigue os jovens a lutar por mudanças. Ser alguém na vida a gente já é, o olhar de pena não vai ajudar, as perguntas constrangedoras não vão ajudar, o que ajuda é ter a noção de que podemos ser o que quisermos ser independente de projeções que as pessoas colocam na gente.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

quem ama fica

Quem ama, ama de qualquer jeito. Se for interessante ficar, a pessoa fica. Se for pra demorar, demora. Não tem desculpa pra quem ama. Aceitar o pouco de alguém é acreditar que somos poucos, que merecemos pouco, quando na verdade somos infinitos, gigantes e não merecemos nada menos que isso.
Quem ama não se importa com o jeito diferente, se adapta, se enrosca, não sai. Faz fogo quando tá frio, aquece a alma e alivia a dor, só de estar. Quem ama ri junto e não compete força nem ganhos, apenas aplaude e fica feliz pelas conquistas de quem ama.
Ao invés de pedir, se doa, preenche, aumenta as alegrias, se multiplica e faz dos pequenos instantes horas a fio.
Quem ama não cobra, não espera nada em troca, faz o feriado durar uma semana sem sair de casa.
Quem ama não sente ciúme doentio, daquele jeito que ninguém pode encostar, porque tem confiança ali no meio, sabe. Não precisa ter medo.
Quem ama sente que a pessoa tá chegando só pelo cheiro, ou pelo instinto. Cheira, afaga, encosta devagarinho pra não assustar.
Quem ama dá. Quem ama consente. Quem ama espera. Quem ama vem.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

dia do amor

Não quero falar de melhores amigos, de cumplicidade, de aventuras, sonhos compartilhados e essas coisas essenciais todas, quero falar de amor, o amor sólido, veemente, incrível e inexplicável que é o amor entre os amigos. O fato de escolher torna tudo mais forte, na verdade o instinto escolheu por nós e por isso estamos - há tanto tempo, tantos acontecimentos, tanto tempo longe - juntos, porque nos amamos, nos conhecemos, nos respeitamos e aprendemos isso devagarinho, sem medo e sem amarras, construímos esse amor e desde então cuidamos dele direitinho. Obrigada por me ajudarem a construir minha vida sozinha, obrigada por me ensinar a conviver com o diferente, obrigada por me instruírem a ir por caminhos mais difíceis e assim aprender muito mais, obrigada por não ser como mãe, mas como irmãos pegajosos e chatos, que não aliviam e tacam as verdades na cara. Obrigada por serem parceiros, leais, fortes e incríveis, a amizade torna a vida mais leve e faz os dias serem menos tortuosos, por isso eu peço, vivam para sempre, não se afastem, não tenham medo, contem comigo, me abracem, me escondam, me ajudem, eu preciso de vocês todos os dias e esse precisar é real como a sede, como o ar, como a vida que existe e nos ensina a caminhar.  

segunda-feira, 10 de julho de 2017

incomum

Como a chuva que veio em julho, milagres acontecem. Assim esperamos, mesmo que alguns estejam inconformados com o frio que também veio sem avisar, mesmo cansados de esperar e pedir a Deus, a Buda, a Iemanjá.
Mesmo perdidos dentro do redemoinho que é o passar dos dias.
Mesmo solitários e antissociais, por medo de represálias, por medo de exposição.
Esperamos assim cansados e sobrecarregados, indo ao encontro da sagrada escritura, procurando abrigo seguro.
Quando não, procurando resposta. E mesmo que seja difícil encontrar, ainda assim esperamos. Convictos, atentos, calados e inertes. Pois esperar também cansa. Esperar também demora e não dá pra ser otimista em todas as situações, então esperar se torna a mais sensata das escolhas.
"Venham os que estão cansados e sobrecarregados que eu lhes darei descanso". Vamos então. Vamos correndo. Queremos deitar nesse friozinho. Queremos descansar sem medo de acordar. Queremos notícias boas pelo menos uma vez. Queremos respostas positivas. Queremos cantar Trem Bala, porque a letra é linda demais, mas já encheu o saco.
Queremos e não podemos fazer nada. Porque não depende de nós, mas ainda assim esperamos.

terça-feira, 4 de julho de 2017

diário

Desde os seis anos eu escrevo em diários. Nessa idade eu nem sabia de muita coisa, mas como se chamava diário, eu tinha que escrever todos os dias, falando o que eu fiz no dia, o que eu comi, o desenho que eu tinha assistido. Era tudo irrelevante, eu sei, mas na época me fazia sentir alguém com um enorme segredo que só meu diário e eu sabíamos. Relendo algumas coisas percebi como eu era egoísta as vezes, principalmente na minha adolescência. Um ego gigante, típico de pessoas nessa fase, queria o mundo pra mim e achava que ele girava ao meu redor. Mas eu era tão pequena quanto meus textos no diário, excluindo possibilidades e pessoas, o tempo inteiro. 
Crescer nos faz perceber o quanto somos insignificantes sozinhos, o quanto tentar provar a nossa grandeza é trivial. É voltar a ser criança. Ter o coração humilde de aceitar as impossibilidades sem perder a esperança.  Crescer nos faz ver como somos pequenos diante de tudo, diante do mundo. Como é relativo o estar. 
Por isso que no meu diário de hoje em dia eu tento não ser arrogante nem ficar fazendo planos, eu tento marcar o que aconteceu, seja bom ou ruim, mas só pra deixar guardado mesmo, porque um dia eu sei que vou ler de novo e quero me orgulhar da jovem pessoa que fui, sem excluir partes, sem rabiscar memórias, apenas pra sentir que eu sempre vou poder recomeçar.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

sétima série

Todas as aulas eram iguais, “ô diretora pode descer, a sétima série não tem medo de você”. Nos respeitávamos e erámos cúmplices uns dos outros, mas os professores, coitados, sofriam com aquela turma. Digão era gordinho e muito engraçado e Geísa esquelética e com a letra  mais bonita da sala, viviam entre tapas e beijos, um dia ele pulou em cima dela e os dois rolaram um pequeno barranco de terra que tinha ao lado da sala, rimos todos.
Dayse e Cleia, melhores amigas, os melhores trabalhos em grupo e apresentações sempre elas que faziam, a despeito de Tiago e Rafaela – os melhores alunos da turma – que só tiravam 10 e quando não, um 9.8. Mas quando todos se juntavam, incluindo ainda Gisa e Naiane, era show na certa. Eu sempre procurava um jeitinho de entrar nesse bolo, né.
Costumávamos combinar qual a pirraça do dia pra aula de Madalena ou de Eunice, Laiane de um lado da sala começava o “hmmmm” e parava quando Madá encostava nela, daí eu continuava do outro lado, pra ela ficar zonza com o vaivém – Madá, eu não me orgulho disso, saiba.
Marcinha e Liginha brigavam toda semana, as duas se amavam, a gente até combinava roupa quando na escola ainda não tinha uniforme, mas sempre qualquer desentendimento fazia eu ficar no meio, não podia levar conversa nem pra uma nem pra outra, acho que aquela época me preparou pra vida adulta, não foi fácil.
Danilo e Nanado sensações da escola, as meninas das outras séries sempre vinham pra nossa janela admirá-los, só que Nanado foi pra outra escola fazer a oitava série, 80% das meninas da sala perderam seu colírio de cabelo loiro cortado em formato de sopeira (que inclusive, deus benza que ele acordou pra vida e hoje em dia usa topete) e os olhos azuis.
Era divertido quando alguma professora desesperada gritava pedindo pra gente parar de gritar e alguém cantava “pedi pra parar, parou” e todo mundo se aquietava, parecia mágica, mas era só amizade mesmo, apesar de sermos péssimos alunos, éramos ótimos colegas, acho que isso pode ser um ponto positivo, ne?
A oitava também era legal, mas já sem Digão e Nanado. Teve uma apresentação em que rolou beijo de língua, ninguém sabia, porém, que aquele seria o primeiro beijo de Rafael, enquanto Thaís já sabia os truques dos beijos, tia Salu, coitada, começou a chorar enquanto todo mundo admirava o fôlego de Rafael no seu primeiro beijo que durou quase cinco minutos. Anos depois Rafael e Regimônica – que sempre se sentava no fundo - se casaram e tiveram dois filhos.
Hoje em dia a maioria se casou, teve filhos, fez faculdade, alguns tem empregos, outros desempregados (eu e quem), alguns seguiram o que imaginavam que seguiriam outros nem sabem ainda o que querem. Eu não sinto saudades do passado, mas dá uma nostalgia lembrar de como tudo era grande e parecia não ter fim e de como era divertido viver a vida intensamente sem preocupar com o amanhã.

Eu não sou fã de reencontro de turma, mas seria muito legal saber das histórias que eles se lembram daquela sétima série particularmente especial que rumava para o ensino médio há exatos treze anos.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

é só mais um dia

Nunca gostei muito do meu aniversário, nunca soube explicar o motivo. Mas sempre esperei por outras datas com muita ansiedade, como Natal, Páscoa, São João, datas que a gente sempre comemora com pessoas que a gente ama e isso sempre foi muito importante pra mim. 
Daí que há quatro anos, no dia de São João vozin morreu. Ok, trágico, foda, difícil e tal. Pensei que essa data seria um trauma pra mim, nem queria mais, a magia de São João tava marcada por uma tragédia insuperável, vivi uns lances de auto conhecimento nesse meio tempo e voltei a pensar no meu aniversário. Uma data que eu não gosto. Talvez seja porque eu fico mais velha, ou por medo de alguém fazer surpresa, ou pela dificuldade em responder a felicitações, não sei, só sei que é só mais uma data. E aí canalizei minhas energias de São João pra isso. Meu vô morreu no São João, mas ele continua fazendo falta no Natal, Páscoa, fim de tarde, dia dos pais, dia das mães, almocinhos, festa na roça... Todo dia. 
Então não tem porque eu não gostar do dia em que ele se foi. É foda? Claro, mas segue o forró e a fogueira, vamos comemorar o agora porque é tudo o que temos.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

texto sobre série - sem spoiler

Eu assisti a Anne With An E e minha vida ganhou um novo amorzinho. É uma série que tá na Netflix, tem apenas sete episódios e não tem motivos pra você não assistir. Eu não soube nem falar pras pessoas direito o porquê de eu me apaixonar tanto e tão rapidamente por ela, mas enfim, quis escrever sobre porque foi algo que realmente me abraçou.
Primeiro a história, Anne é órfã e tenta se adaptar ao mundo usando a sua imaginação - imaginar que um dia as coisas podem ser melhores. A vida dela sempre foi muito difícil e isso faz com que as alegrias sejam plenamente aproveitadas. Cada segundo, cada vista bonita, ela faz questão de usar palavras bonitas pra descrever pois "grandes acontecimentos exigem grandes palavras".
As imagens. Ai. Meu. Deus. As imagens. A história se passa no campo, as paisagens não são nada menos que deslumbrantes, as cenas são lindas tanto quando o campo está verde quanto quando a neve cobre tudo, as cores, os movimentos, tudo, cada pedacinho torna tudo mais interessante.
A trilha sonora eu não vou nem comentar, primeiro porque eu sempre choro quando tem música linda e depois porque eu não sou ninguém pra comentar aquela maravilhosidade da sonoplastia. Eu tô em êxtase.
Anne é uma adolescente a frente de seu tempo, decide por si só que será a dona de seu futuro, que a amizade é algo solene e que ter uma família é a maior maravilha que uma pessoa pode ter. O conceito de família é fluido, mesmo sendo em uma época muito arcaica. A narrativa traz aspectos revolucionários mas sem chocar, apenas pincelando ideias e fazendo dos diálogos uma fonte de conhecimento.
As relações construídas são tão naturais, como a gente deseja que seja na vida real. A protagonista é honesta com seus sentimentos, e isso foi o que mais me encantou, pois é muito difícil aceitar o que somos e o que sentimos sem parecer egoístas ou sem nos preocupar com julgamentos.
Recomendo a todos que vejam, é uma história imprevisível, que relata problemas do cotidiano, desde os desafios de conviver em sociedade até as dúvidas e crises existenciais tão presentes em nossas vidas. Assistam!!!!

terça-feira, 6 de junho de 2017

bora acreditar né

É por dias melhores que a gente espera sempre, todo dia é um dia a menos né.
Toda vez que tinha encontros na casa de alguém pra gente falar o que sentia, o que tava agonizando dentro da gente prova isso. Sempre queremos ser a melhor versão de nós, tanto pra nós mesmos quanto pros outros.
Somos mutantes por isso, somos instáveis também por isso, pois cada coisinha que acontece faz com que sejamos mais fortes. William sempre tenta enxergar a luz no fim do túnel. Thaís Mirella gosta de ressaltar a importância da sinceridade e da verdade sempre. Edd não deixa a gente esquecer que somos foda e podemos ser o que quisermos. Pâmela grita alto quando as coisas não vão bem, ela grita para que as coisas melhorem. Assim é Iana, que em meio a tempestades vem com um sorriso e diz que vai ficar tudo bem. Que lindo ne. A gente não tá sozinho. Toda vez que pensamos que estamos é um passito passito suave suavecito pra trás, e não é bom não. Isso arruina a nossa essência, destrói tudo aquilo que construimos diariamente pra nos sustentar nas avalanches. Sejamos positivos. Por mais que escureça, por mais que faça frio, por mais que esteja faltando moeda pro pão. Sejamos fortes e positivos porque uma hora dá certo. Seja lá qual hora for, tomara que seja logo, mas continuemos acreditando pois acreditar é tipo a gasolina. Ajuda a caminhar.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

eu amo funk

Tava pensando esses dias em como a gente tem gostos e manias e pensamentos porque a gente pega isso de alguém. Eu quando saí de casa comprava só leite em pó porque era mais barato, e eu achava que todo mundo que morava fora de casa tinha que comprar leite em pó porque é mais barato (e estudante tem que sofrer (pior ditado popular brasileiro)). Mas é, eu não me lembro de quase nada que eu gosto por mim mesma, exceto o samba que eu aprendi a gostar porque fiz um trabalho na faculdade sobre daí me apaixonei. A gente vive de experiências né, com um pouquinho de cada pessoa que a gente conhece, cada encontro, cada carnaval ou são joão a gente condiciona o nosso gostar. Quero dizer que tudo bem que a maioria das coisas de que a gente gosta é por que vimos alguém gostar antes, ou que nos afeiçoamos com o tempo, e não é todo mundo que gosta das mesmas coisas e é por isso que podemos concluir que não existe bom ou mau gosto, existem apenas gostos. Cada um direciona o gostar pro que quer, não adianta. Então seria bom quando alguém falasse "ah, amo funk" um outro não gritasse do outro lado da rua "funkkkk?? Tá doida", porque a gente gosta do que a gente quiser, ue, o que serve pra um pode servir pra outro, como também pode não servir, e daí vida que segue, pois existe a  possibilidade de se estar na mesma hora e no mesmo lugar de quem gosta de melão (argh) e de quem não gosta de brigadeiro de panela (argh2). Fiquei sabendo hoje cedo que respeitar os espaços é o maior desafio da física segundo Albert Einstein.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

pode chorar sim

Não é todo dia que a gente tá bem e tudo bem. É incrível como nos isentamos do sentimento de fraqueza: não é porque a gente fraqueja que quer dizer que não somos fortes. Eu tenho a mania de achar que o problema do outro é mais importante que o meu, ou que eu tô sendo dramática chorando por motivos bestas. Mas ainda bem que tem gente pra me lembrar que todo mundo sofre, dentro das suas limitações, dentro dos seus reservatórios de fracassos e do mesmo jeito todo mundo pode pedir ajuda quando a barra pesar. Não dá pra carregar o mundo nas costas e ficar sorrindo pra todo mundo o tempo inteiro. É preciso que façamos um esforço pras coisas melhorarem sim, mas quando a barra pesar, e ela pesa mesmo, tudo bem chorar e pedir arrego, não quer dizer que qualquer coisinha o mundo vai acabar, mas quer dizer que não somos onipotentes, que temos limitações e que a vida exige que medidas rápidas sejam tomadas, ela não vai parar pra decidirmos e fazermos tudo o que temos pra fazer, e é pesado, cansa, dá trabalho e as vezes falta sanidade pra aguentar tudo e decidir tudo e ser feliz ao mesmo tempo. É difícil mesmo, mas dar um tempo pra gente aceitar isso é essencial, parar um pouco, chorar, recobrar o fôlego e tentar colocar as coisas no lugar com calma, pode ser mais importante do que tentar provar alguma coisa pro mundo, tentar ser forte toda hora e mostrar isso pras pessoas sendo que por dentro tá tudo nublado. Tudo bem chorar. Tudo bem sentir tristeza. Tudo bem achar que o mundo tá desabando. Só precisamos que a vida não seja assim toda hora, porque a vida é efêmera, tudo passa rápido, tanto as coisas ruins quanto as coisas boas. A tempestade vai passar, e depois a gente pode começar de novo.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

ô desgraça

 alguém morreu, meus pais se separaram, não tenho  emprego, não tem comida, não tem água. acabou o VR, o ônibus passou mais cedo, a ressaca durou três dias e a dignidade não durou meia hora, tá calor demais, tá frio demais, o aluguel ficou mais caro, tô com crise de pânico, as plantinhas que ficam na varanda tão morrendo, perdi 50 reais na feira, comi comida estragada, diarreia, dor de cabeça, vômito. vinte anos de espera pra aposentar e morri um dia depois de conseguir. a escola não tá aceitando criança menor de 3 anos. a criança não tá conseguindo comer, não tem intestino. o câncer matou três pessoas na família. segunda feira é dia de arroz com PTS no RU, tava caminhando e minha sandália quebrou no meio da rua. não tenho pais. não tenho namorada. tenho piolho, minha garganta atacou e eu não consigo comer nada. faltou desodorante no calor de 40 graus. alguém deixou cair tinta no banco do carro. a campainha queimou, o arroz queimou. tô parada no trânsito há horas, tinha entrevista de emprego há uma hora atrás. o preço da gasolina aumentou. não consigo falar em público. tenho dificuldade em manter as coisas organizadas. deixei meu filho com estranhos e eles judiaram. perdi minha roça inteira de tomate. meus alunos me odeiam. não tenho namorado. tô com fimose. perdi o bebê. vomitei sangue ontem. perdi dinheiro em aposta. enviei mensagem pro boy bêbada, ele não respondeu. ganhei 5 quilos em um mês. não sei dançar, não sei cantar, não entendo inglês. tô com diabetes. não consigo andar duas quadras sem dar uma pausa. tô ficando nervoso com o som da sua voz. não entendo o teorema de pitágoras. não sei pra que servem panelas de cabo de ferro. encontrei meu tio morto. levei um golpe. sai do banheiro com a saia enfiada na calcinha, todos riram. fui demitido. perdi a viagem. caí no meio da rua. atropelei uma gata prenha. dei a louca no velório do meu avô. tô com saudades. tô com preguiça. tô grávida aos dezesseis. arrumamos a casa, capinamos o quintal, juntamos todo o lixo. a vida tá um caos - mas a gente tá levando.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

quem souber morre

eu fico me perguntando o tempo todo o que é ajudar e como a gente pode fazer isso dosando as necessidades de cada pessoa, e tentando entender o que faz uma pessoa precisar mais que outra. mas ao mesmo tempo me imagino fazendo alguma coisa que mude alguma realidade. aí eu me pergunto se os nossos desejos voluntários são egoístas. queremos ajudar, mas ajudar de que forma? tem como se doar a ponto de que a ajuda seja a coisa mais importante? queremos servir a quem? o que faz de nós pessoas boas?
existem infinitos que são maiores que os outros, é o que diz o paradoxo de galileu, saint- exupéry adaptou e fez do pequeno príncipe uma fonte de auto ajuda mútua. existem tentativas de sucesso que são mais produtivas que outras. existem vontades de transformar a realidade que são mais eficientes que outras, mas não saberia dizer ao certo onde começam e onde terminam as verdadeiras intenções altruístas.
o sentimento de pertença ao mundo faz com que a gente tente criar laços, ajudar quem precisa de palavras amigas, doar um quilo de alimento pra entrar num show, dar esmolas, abraçar uma criancinha carente no carnaval e depois chorar por não ter a mínima condição de lidar com o que isso representa. o que fazer com a vontade de ser infinito?
será que é a mesma coisa dar um prato de comida e ajudar alguém resolver uma atividade de matemática que vale meio ponto? acho que depende de como a gente vê o outro e de como a gente lida com as realidades diferentes. ajudar uma pessoa pode ser mais que dar o braço, mas dar um tapa na cara e falar que existe mais coisa que o próprio umbigo, que pular de paraquedas pode ser interessante, ou que ficar sozinho demais pode gerar pensamentos suicidas e se não tiver ninguém do lado pode ser que a vida fique mais difícil, sabe.
queremos ajudar e ao mesmo tempo ser fortes, talvez não dê pra fazer tudo ao mesmo tempo, talvez o significado de ajudar seja equilibrar alguma coisa que não dá nem pra gente ver, mas mesmo assim a gente insiste: temos que fazer. temos que agir. mas nem sempre conseguimos e quando não, vem o sentimento de culpa, as avalanches de auto flagelo, de auto sabotagem. o que devemos fazer? quem souber me chama inbox e me fala? to esperando. beijos.  

segunda-feira, 1 de maio de 2017

apego

A gente é doido. Eu mesma, sou totally crazy. Fico tentando me apegar a novos gostos pra esquecer passados, ouço música pra tentar aprender inglês, mas errando cada pedacinho. Caminho em zig zag até hoje e quando fico nervosa me remexo toda, braço, perna, cabeça descoordenados e nem sei o que eu falo. Por isso a gente tenta se apegar a coisas que nos façam acreditar que existem possibilidades, que podemos fazer alguma coisa enquanto vivos, podemos modificar alguma realidade, ajudar pessoas, seja com palavras de afeto ou mesmo um abraço (que ajuda pra caralho).
Procuramos o sentido da existência inevitavelmente, talvez a existência não tenha sentido, talvez estejamos aqui só pra passear e fazer alguns amigos, sorrir pra desconhecidos, assistir a algumas séries, se apaixonar, sofrer por amor, comer porcaria, ficar bêbados, ficar chapados, jogar na loteria. Tiros no escuro. A existência é um mistério e cada um tenta fazer as verdades funcionarem pra si. Nada é tão interessante quanto buscar o eu perdido dentro da gente, ouvir nossa própria voz e ter certeza que o infinito é nosso, que as verdades que a gente cria funcionam pra gente, que as possibilidades podem ser enormes e ao mesmo tempo nulas, pois vivemos um paradoxo que não tem como entender. Somos matéria, sangue vivo, voz abafada, sentimentos velados, sorrisos de canto e choro segurado. Precisamos de algo em que nos apegar, porque a vida é uma passagem, se não fosse pra tentar ser feliz ou tentar criar algo que seja importante, ou mesmo ser importante pra alguém, a gente não estaria aqui.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

motivos

Porque quando eu era criança gostava de brincar de bola, andar de bicicleta, bola de gude, coisas que na minha infância era sinônimo de lesbianidade – uma menina que brinca de coisas de menino. Eu não tinha primas da minha idade, só primos, então a gente brincava mais de coisas de menino mesmo e era sempre mais legal, pois “brincadeira de menino” tem mais aventura, mais descobertas e disso toda criança curiosa gosta. 

Porque eu cresci numa cidade onde as mulheres que chegaram em uma certa idade e não tem namorado são encaixadas em três categorias: 1. Sapatão. 2. Beata de igreja. 3. Rapariga que namora homem casado, por isso esconde.

Porque os meninos podem tudo. As meninas não. Elas precisam aprender a cozinhar cedo, arrumar a casa, cuidar do corpo, ser inteligente e tirar boas notas. Os meninos não. 

Porque muitas mulheres são mortas todos os dias (na minha cidade várias já foram) por ciúmes e por não serem o que os seus maridos queriam que elas fossem. 

Porque eu percebi que isso estava errado e que só porque faz parte da cultura eu considerava normal, eu me dei conta de que pra eu entender e pra não ser mais conivente eu precisava seguir uma doutrina que me ensinasse a lutar por direitos mínimos iguais e que me ajudasse a entender que essas coisas não são normais.

Porque eu quero que as crianças brinquem. De boneca, bolinha de gude, carrinho, casinha. Sem distinção de gênero. Quero também que a menina possa escolher namorar ou não, se casar ou não, dar pra quem ela quiser ou não. Quero me redimir com as meninas da minha cidade que eu julgava por ficarem com quantos meninos quisessem. 

Porque eu quero que as pessoas parem de julgar. As meninas não podem beijar mil bocas, mas os meninos se ainda forem virgens aos 15 anos são imediatamente chamados de gays e se realmente forem gays, ninguém comenta sobre, porque é proibido ser gay (até aqui, ser "comparado" a mulher é sinônimo de fraqueza). Sim, estamos falando do século 21 ainda.

Porque eu não quero que as pessoas dessa geração ganhem rótulos antes mesmo de saberem quem são. Porque eu preciso que as meninas da minha cidade se reconheçam e mostrem pra quem quiser ver (e quem não quiser principalmente) que elas podem fazer tudo o que elas quiserem. Porque as regras que inventaram prendem a gente numa ideia de que somos limitadas, quando na verdade quem decide o quão longe podemos ir somos nós e ninguém pode nos tirar isso.

É por tudo isso que hoje eu sou o que antes eu condenava: sou feminista. Eu condenava por não saber do que se tratava, assim como sei que muita gente condena. Então, querido leitor, se você chegou até essa parte do texto, eu peço que reavalie seu modo de pensar e tente enxergar e lutar por uma realidade melhor pro lugar onde você vive.

domingo, 23 de abril de 2017

se ame e se venere

O padrão acaba com a gente. A gente quer ser magro, alto, cintura fina, peitos fartos, bunda grande, barriga negativa – o tempo todo. A gente quer pintar os fios brancos, esticar as rugas do rosto, depilar a laser, fazer lipo, fazer drenagem, perder 10 quilos em um mês, entrar no tubinho preto P, calçar 36, colocar salto 15 e quem sabe crescer uns dois centímetros. A gente não tá satisfeito com nosso corpo e a gente nem para pra se questionar o motivo disso, o padrão aprisiona a gente, o que a gente vê na televisão, revistas, internet, aprisiona nosso estado natural de beleza, porque não sabemos o que de fato é real e o que é inventado pra gente acreditar.
A gente nasceu lindo. Cada um com um quilo ou dois a mais, linhas de expressão mais evidentes, pele flácida, braços fofos. A gente nasceu e se esquece disso. A gente está vivo e se esquece disso. São tantas as nuances de beleza, são tantas as qualidades que ficam invisíveis quando a gente acha que o mais importante está no número da calça ou na papada aparente. A gente é tão bonito, por que é mais fácil acreditar que não? Por que dar mais atenção a uma  crítica vazia que a um elogio cheio de verdade e estima de melhoras?
Não tem problema engordar dois quilos se você respeita os mais velhos. Não interessa se as pessoas dizem que você é feio sendo que você tem consciência de que é importante cumprimentar de volta quando alguém lhe sorri. Entenda que é preciso reconstruir o seu eu, acreditar na sua força e no que tem dentro do seu coração, porque sentir-se bonito de dentro pra fora é a maior riqueza que alguém pode conquistar. 
Quando a gente entende que a beleza é intangível, que vai muito, mas muito além de perspectivas e padrões que nos colocam, que transcende os comentários maldosos, a gente renasce. Descobrir o amor por si próprio e por todas as particularidades que cada um carrega, traz o sabor da vida de volta. A gente nasce bonito, a gente nasce querido, quem disse que a gente precisa ser bonito pros outros não sabe a grandeza, a leveza, a liberdade e a clareza que é ser bonito pra si mesmo.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

a adolescência catuaba

As pessoas não tem interesse nas coisas, principalmente os adolescentes. Tudo bem que a internet é recente, ok, dá pra entender, mas são tantos os meios de pesquisar as coisas, de tentar entender o mundo, que eu fico muito irritada quando eu vejo pessoas sem o mínimo de interesse em saber o que está acontecendo ao redor delas. Guerras, destruição, políticos sendo desmascarados, mas a galera só quer saber de tênis branco e Counter Strike.
Puta que me pariu (mami, sem ofensa), tá normal namorar todos os migos da escola com 13 anos, tá normal engravidar duas meninas, assim como tá normal chegar em casa bêbado depois de uma noite loucona com os migos aos 13 anos, por que ao invés de chegar pra ajudar a resolver a equação de Bháskara, a era “vem de zap” tá chamando pra fazer batida de catuaba, tudo isso aos 14 anos recém completados.
Adolescente gosta de viver perigosamente, se sentir o pica do rolê e o caralho, a internet deveria servir pra informar que o consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes compromete o sistema nervoso central e que as pessoas que começam a beber antes dos 15 tem mais facilidade de desenvolver dependência química futuramente e ainda pensando na vida adulta, o uso de álcool na adolescência é associado ao maior consumo e abuso de outras drogas.
Sair de casa, morar longe dos pais sempre foi o divisor de águas entre a infância e maioridade, porque a partir dali é que se ia aprender a se virar sozinho, a fazer uma comida, a lavar a própria roupa, enfrentar desafios básicos de convivência – conhecer novas pessoas – e tentar se relacionar de uma forma que a existência não seja apenas mais uma interrogação.
Eu precisei, mas não é todo mundo que precisa, tem gente que já vai crescendo com aquela maturidade like Maisa, que se diferencia no meio da multidão e tem noção do que veio fazer no mundo, eu não tinha (nem sei se ainda tenho), mas meu ponto é: eu fico intrigada com a falta de interesse das pessoas em descobrir, entender, aprender, inovar.

Poderíamos estar mais atentos às mudanças climáticas, dar aquela respeitada no meio ambiente, tratar bem nossos pais, comer mais verduras, dar umas voltinhas de bicicleta, sair da zona de conforto, parar de querer ser igual, fazer o que os outros fazem só pra se incluir na rodinha, é mais difícil ser diferente, eu sei, mas é tão bom sair da bolha e tentar coisas novas, traz uma sensação de liberdade, recomendo.  

domingo, 16 de abril de 2017

não tenho certeza





Taurina com ascendente em Áries e lua em Libra. Talvez eu soubesse o que isso significa se não perdesse o interesse pelas coisas na metade. Talvez eu não parasse as coisas pela metade se eu fosse menos preguiçosa. Se eu não fosse preguiçosa, talvez eu tivesse lavado todas as minhas roupas que eu acumulo ao pé da cama. Se esse fosse o problema, ok, porque as roupas eu poderia só jogar na máquina e deixa-las estragar com o peso do tempo. Mas talvez eu ficasse com um pouco de arrependimento de deixa-las estragar com a voz de mainha lá no fundo “você não sabe quanto custa!!!”. Talvez o peso na consciência suma um pouco quando eu preciso muito do chuveiro quente batendo nas minhas costas, e esqueça um pouco da consciência coletiva. Talvez eu precisasse de mais um tempo pra pensar no motivo de eu tomar banhos tão quentes mesmo nos dias de calor e novamente, não ter nenhum tipo de remorso com relação a isso. Talvez eu me esquecesse de tomar banho quando tá muito frio e usasse a desculpa de que eu nem saí hoje, to bem limpinha ainda. Talvez eu ficasse com receio de falar que eu não tomei banho uma vez no frio e as pessoas pensassem que eu não tomo banho nunca. Talvez eu ligasse o foda-se, porque todo mundo sabe que eu detesto o frio e minhas articulações não funcionam direito nessa época. Talvez eu seja um pouco contraditória, pois mesmo não gostando de sentir frio eu tomo muito sorvete e cerveja no frio e tô nem ai, se gripar gripou, é o que dizem. Talvez eu tivesse​ muito medo de adoecer e ficasse pesquisando no google toda vez que sinto uma leve pontada no peito, mas tivesse tanto medo de hospital que preferiria não alardear tanto. Talvez eu nem soubesse mais quando foi que tomei a última vacina, não só por procrastinar, mas por ter medo de agulha também. Talvez se eu não fosse tão medrosa eu não deixasse meu cartão de vacina sumir. Talvez se eu não fosse tão desorganizada, eu conseguisse encontrar também a cartinha que meu avô escreveu no meu aniversário de oito anos, mas talvez se eu encontrasse poderia ser um pouco difícil pra mim. Talvez se eu não me concentrasse tanto nas minhas tristezas elas sumissem aos poucos. Talvez se eu mudasse de assunto eu conseguisse me lembrar porque comecei a escrever esse texto. Talvez as coisas não sejam tão difíceis como a gente pensa e as respostas pras nossas indecisões estejam dentro de nós, né?

sábado, 15 de abril de 2017

avesso

As possibilidades de enxergar o outro são inúmeras, mas o outro é, antes da minha percepção, alguém que se intitula, se rotula e eu não tenho nada com isso. A minha visão do “quem é você” não interfere na sua vida nem na vida de ninguém que eu, por ventura, queira classificar.
O que você faz ou o que deixa de fazer só interfere na vida do outro se você resolver que vai extrapolar os limites da liberdade. Você se isenta de críticas quando não toma partido, mas o que seria de você sem tomar parte de alguma coisa? O que você faz? O que você é se não tem algo em que acreditar?
Não é preciso ter opiniões formadas, mas é preciso ter no que acreditar, mas nenhuma dessas questões envolve o “ter que intervir na vida, opção, intelecto, alternativa (...) de alguém”. Nada é verdade se isso for observado a partir de um único ponto de vista. Ninguém é uma única coisa. Ninguém sabe de tudo.

 As pessoas têm que deixar de cavar raso e meter a broca nas aparências. Ir fundo, perceber (do infinitivo latino percipere, que significa “apreender pelos sentidos") que tudo é uma questão de sensibilidade. Todas as coisas são o que são. Mas as pessoas não. As pessoas estão. E isso muda todo o contexto, todos os rótulos, todas as premissas e todas as verdades.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

pontos de vista

Existem pessoas que gostam de sair e se divertir a noite inteira, tem gente que não gosta muito de sair de casa. Algumas amam tatuagens, outras não cortam o cabelo, muitas pessoas tem medo de altura e de sapo, algumas outras não tão nem aí se é inverno ou verão, pois não existe estação ideal pra jogar vídeo game o dia inteiro. Aquelas que gritam e as que falam baixinho, as que encontram beleza em tudo e as explosivas, as carentes de atenção e as solitárias, que gostam de ler livro debaixo de árvores. Existem vários tipos de pessoas, que escolhem preferências por vontade ou por insistência de um amigo, que resolvem mudar de hábitos, ou os que estão muito bem assim. Aqueles que preferiam nem ter levantado da cama, mas que não se arrependeram por que era dia de sorvete grátis na Ben & Jerry's e valeu a pena ter levantado. Existem milhares de gostos. Existem milhares de vontades. A cabeça é um infinito de possibilidades, as pessoas crescem, se aprimoram, descobrem novos sentidos e sentimentos, e a partir das percepções de mundo elas apreendem novos hábitos, novas rotinas, afinal são oitenta e seis bilhões de neurônios trabalhando incansavelmente para segurar os aprendizados, pra colocar em prática a receita de bolo que alguém aprendeu na internet, pra criar um robô, pra tomar cerveja e filosofar sobre a vida com amigos ou sozinho na mesa de um bar. O mundo é outro infinito de possibilidades, as ideias estão aí, as oportunidades estão aí, é muito desperdício não tentar entender o que o outro quer dizer, porque a partir disso, novos mundos são criados, novas ideias surgem, novos espaços se abrem e aí os oitenta e seis bilhões de neurônios são cada vez mais úteis, não só pra colocar uma colher de comida na boca ou concluir as 3 repetições de 15 levantamentos de peso de 40 quilos cada que dá aquele tônus lindo nas pernas, mas também pra criar invenções e tirar a gente daquele quadrado que a gente se esconde e se fecha e não quer mais saber de nada. Ignorar as experiências que o mundo (as pessoas, a vivência, os encontros) nos oferece é apagar dentro de si as possibilidades de recomeço e os incríveis novos mundos que podemos criar a partir disso. Não ignore, se abra, se permita, se encontre e faça das possibilidades um encontro consigo mesmo e com o universo que você vai criar.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

tudo doido de novo

Estamos sempre querendo expor nossas fraquezas, mesmo que inconscientemente, queremos aquele abraço despretensioso que anula qualquer incerteza, aquela ajudinha pra sair do fundo do poço, queremos colo, não julgamentos.
Expressar a fraqueza não quer dizer que não somos fortes, mas que podemos andar devagar segurados por muletas, porque não dá pra aguentar tudo o tempo todo, a gente tem o direito de ficar triste quando não vê nenhuma luz no fim do túnel. E quando colocamos isso pra fora, a gente não quer ouvir "eu também tô assim", mas "calma, isso vai passar, você vai ver!".
Por mais que a gente saiba que vai passar ainda é difícil ser sóbrio e maduro o suficiente. O país em crise, a gente sem emprego, sem esperança de que tudo o que a gente sonha vai se realizar, porque não dá pra enxergar esperança, ta tudo muito nublado, e não tem ninguém com uma solução imediata que nos faça sentir que "agora vai", é tudo incerto e se a gente não confiar nos incentivos e na máxima de que as coisas sempre dão certo no final, fica difícil achar um sentido na existência.
Porque a gente quer ser alguém na vida, independentes, donos dos nossos destinos, quitadores das nossas próprias dívidas.

É muito difícil ter 20 e tantos anos e não conseguir ter nada além de um diploma (que também não serve pra nada) e algumas ideias e sonhos e esperanças de que tudo vai dar certo.