Ser antissocial tem as suas
vantagens, principalmente em tempos de isolamento. Mas comecei a sentir alguns
vestígios de vontade louca de sentar na mesa de bar com meus amigos e sair de
madrugada porque o bar fechou e a dona ta puta comigo pedindo pra eu parar de
gritar. De leve a sensação. Além do mais, me despertou também a vontade de me
declarar, de expressar mais e xingar, falar na cara que “vocês não estão
respeitando o isolamento, vocês são burros, irresponsáveis e inconsequentes” e
continuar sendo ignorada como boa antissocial que sempre fui, mas acontece.
Talvez assistir Gilmore Girls
pela enésima vez não seja também a melhor escolha, escrever cartas e mais
cartas e fazer um compilado, que ta mais pra diário de quarentena, ninguém vai
querer ler isso, mas queridos, recebam minhas cartas que escrevo com muito
sentimento. Pronto, já to falando sozinha de novo, não que isso seja estranho
pra mim, mas ouvir meus pensamentos cada dia mais altos me assusta, te assusta
também?
Eu não queria que isso estivesse
acontecendo, Helena nem se lembra mais de mim, quanto tempo não vejo minha avó
e meu afilhado que me é tão caro. Estou definhando aos poucos e minha cara de
antissocial está quebrada e jogada no chão, quero contato e quero pessoas,
quero ficar conversando até mais tarde, até não saber mais onde o assunto
começou. Estou cansada, com sono e aos finais de semana durmo muito e bebo
muito. Ah, to bebendo sempre, na geladeira tem vinho, catuaba e cerveja, fora
dela tem pinga e tequila. Cuidado pessoal.
Penso que Neia está muito bem,
minha outra vó ainda melhor, queria não pensar que as pessoas mortas estão em
vantagem, por que é cruel, mas por mais cruel que seja, elas estão melhores,
graças a Deus. Que loucura, né. A gente quer viver, quer estar, quer suprir, ao mesmo tempo que a gente se cansa e quer desistir.
Vamos para mais uma rodada de tequila e Big Brother. Hoje é dia de eliminação.