segunda-feira, 29 de maio de 2017

eu amo funk

Tava pensando esses dias em como a gente tem gostos e manias e pensamentos porque a gente pega isso de alguém. Eu quando saí de casa comprava só leite em pó porque era mais barato, e eu achava que todo mundo que morava fora de casa tinha que comprar leite em pó porque é mais barato (e estudante tem que sofrer (pior ditado popular brasileiro)). Mas é, eu não me lembro de quase nada que eu gosto por mim mesma, exceto o samba que eu aprendi a gostar porque fiz um trabalho na faculdade sobre daí me apaixonei. A gente vive de experiências né, com um pouquinho de cada pessoa que a gente conhece, cada encontro, cada carnaval ou são joão a gente condiciona o nosso gostar. Quero dizer que tudo bem que a maioria das coisas de que a gente gosta é por que vimos alguém gostar antes, ou que nos afeiçoamos com o tempo, e não é todo mundo que gosta das mesmas coisas e é por isso que podemos concluir que não existe bom ou mau gosto, existem apenas gostos. Cada um direciona o gostar pro que quer, não adianta. Então seria bom quando alguém falasse "ah, amo funk" um outro não gritasse do outro lado da rua "funkkkk?? Tá doida", porque a gente gosta do que a gente quiser, ue, o que serve pra um pode servir pra outro, como também pode não servir, e daí vida que segue, pois existe a  possibilidade de se estar na mesma hora e no mesmo lugar de quem gosta de melão (argh) e de quem não gosta de brigadeiro de panela (argh2). Fiquei sabendo hoje cedo que respeitar os espaços é o maior desafio da física segundo Albert Einstein.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

pode chorar sim

Não é todo dia que a gente tá bem e tudo bem. É incrível como nos isentamos do sentimento de fraqueza: não é porque a gente fraqueja que quer dizer que não somos fortes. Eu tenho a mania de achar que o problema do outro é mais importante que o meu, ou que eu tô sendo dramática chorando por motivos bestas. Mas ainda bem que tem gente pra me lembrar que todo mundo sofre, dentro das suas limitações, dentro dos seus reservatórios de fracassos e do mesmo jeito todo mundo pode pedir ajuda quando a barra pesar. Não dá pra carregar o mundo nas costas e ficar sorrindo pra todo mundo o tempo inteiro. É preciso que façamos um esforço pras coisas melhorarem sim, mas quando a barra pesar, e ela pesa mesmo, tudo bem chorar e pedir arrego, não quer dizer que qualquer coisinha o mundo vai acabar, mas quer dizer que não somos onipotentes, que temos limitações e que a vida exige que medidas rápidas sejam tomadas, ela não vai parar pra decidirmos e fazermos tudo o que temos pra fazer, e é pesado, cansa, dá trabalho e as vezes falta sanidade pra aguentar tudo e decidir tudo e ser feliz ao mesmo tempo. É difícil mesmo, mas dar um tempo pra gente aceitar isso é essencial, parar um pouco, chorar, recobrar o fôlego e tentar colocar as coisas no lugar com calma, pode ser mais importante do que tentar provar alguma coisa pro mundo, tentar ser forte toda hora e mostrar isso pras pessoas sendo que por dentro tá tudo nublado. Tudo bem chorar. Tudo bem sentir tristeza. Tudo bem achar que o mundo tá desabando. Só precisamos que a vida não seja assim toda hora, porque a vida é efêmera, tudo passa rápido, tanto as coisas ruins quanto as coisas boas. A tempestade vai passar, e depois a gente pode começar de novo.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

ô desgraça

 alguém morreu, meus pais se separaram, não tenho  emprego, não tem comida, não tem água. acabou o VR, o ônibus passou mais cedo, a ressaca durou três dias e a dignidade não durou meia hora, tá calor demais, tá frio demais, o aluguel ficou mais caro, tô com crise de pânico, as plantinhas que ficam na varanda tão morrendo, perdi 50 reais na feira, comi comida estragada, diarreia, dor de cabeça, vômito. vinte anos de espera pra aposentar e morri um dia depois de conseguir. a escola não tá aceitando criança menor de 3 anos. a criança não tá conseguindo comer, não tem intestino. o câncer matou três pessoas na família. segunda feira é dia de arroz com PTS no RU, tava caminhando e minha sandália quebrou no meio da rua. não tenho pais. não tenho namorada. tenho piolho, minha garganta atacou e eu não consigo comer nada. faltou desodorante no calor de 40 graus. alguém deixou cair tinta no banco do carro. a campainha queimou, o arroz queimou. tô parada no trânsito há horas, tinha entrevista de emprego há uma hora atrás. o preço da gasolina aumentou. não consigo falar em público. tenho dificuldade em manter as coisas organizadas. deixei meu filho com estranhos e eles judiaram. perdi minha roça inteira de tomate. meus alunos me odeiam. não tenho namorado. tô com fimose. perdi o bebê. vomitei sangue ontem. perdi dinheiro em aposta. enviei mensagem pro boy bêbada, ele não respondeu. ganhei 5 quilos em um mês. não sei dançar, não sei cantar, não entendo inglês. tô com diabetes. não consigo andar duas quadras sem dar uma pausa. tô ficando nervoso com o som da sua voz. não entendo o teorema de pitágoras. não sei pra que servem panelas de cabo de ferro. encontrei meu tio morto. levei um golpe. sai do banheiro com a saia enfiada na calcinha, todos riram. fui demitido. perdi a viagem. caí no meio da rua. atropelei uma gata prenha. dei a louca no velório do meu avô. tô com saudades. tô com preguiça. tô grávida aos dezesseis. arrumamos a casa, capinamos o quintal, juntamos todo o lixo. a vida tá um caos - mas a gente tá levando.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

quem souber morre

eu fico me perguntando o tempo todo o que é ajudar e como a gente pode fazer isso dosando as necessidades de cada pessoa, e tentando entender o que faz uma pessoa precisar mais que outra. mas ao mesmo tempo me imagino fazendo alguma coisa que mude alguma realidade. aí eu me pergunto se os nossos desejos voluntários são egoístas. queremos ajudar, mas ajudar de que forma? tem como se doar a ponto de que a ajuda seja a coisa mais importante? queremos servir a quem? o que faz de nós pessoas boas?
existem infinitos que são maiores que os outros, é o que diz o paradoxo de galileu, saint- exupéry adaptou e fez do pequeno príncipe uma fonte de auto ajuda mútua. existem tentativas de sucesso que são mais produtivas que outras. existem vontades de transformar a realidade que são mais eficientes que outras, mas não saberia dizer ao certo onde começam e onde terminam as verdadeiras intenções altruístas.
o sentimento de pertença ao mundo faz com que a gente tente criar laços, ajudar quem precisa de palavras amigas, doar um quilo de alimento pra entrar num show, dar esmolas, abraçar uma criancinha carente no carnaval e depois chorar por não ter a mínima condição de lidar com o que isso representa. o que fazer com a vontade de ser infinito?
será que é a mesma coisa dar um prato de comida e ajudar alguém resolver uma atividade de matemática que vale meio ponto? acho que depende de como a gente vê o outro e de como a gente lida com as realidades diferentes. ajudar uma pessoa pode ser mais que dar o braço, mas dar um tapa na cara e falar que existe mais coisa que o próprio umbigo, que pular de paraquedas pode ser interessante, ou que ficar sozinho demais pode gerar pensamentos suicidas e se não tiver ninguém do lado pode ser que a vida fique mais difícil, sabe.
queremos ajudar e ao mesmo tempo ser fortes, talvez não dê pra fazer tudo ao mesmo tempo, talvez o significado de ajudar seja equilibrar alguma coisa que não dá nem pra gente ver, mas mesmo assim a gente insiste: temos que fazer. temos que agir. mas nem sempre conseguimos e quando não, vem o sentimento de culpa, as avalanches de auto flagelo, de auto sabotagem. o que devemos fazer? quem souber me chama inbox e me fala? to esperando. beijos.  

segunda-feira, 1 de maio de 2017

apego

A gente é doido. Eu mesma, sou totally crazy. Fico tentando me apegar a novos gostos pra esquecer passados, ouço música pra tentar aprender inglês, mas errando cada pedacinho. Caminho em zig zag até hoje e quando fico nervosa me remexo toda, braço, perna, cabeça descoordenados e nem sei o que eu falo. Por isso a gente tenta se apegar a coisas que nos façam acreditar que existem possibilidades, que podemos fazer alguma coisa enquanto vivos, podemos modificar alguma realidade, ajudar pessoas, seja com palavras de afeto ou mesmo um abraço (que ajuda pra caralho).
Procuramos o sentido da existência inevitavelmente, talvez a existência não tenha sentido, talvez estejamos aqui só pra passear e fazer alguns amigos, sorrir pra desconhecidos, assistir a algumas séries, se apaixonar, sofrer por amor, comer porcaria, ficar bêbados, ficar chapados, jogar na loteria. Tiros no escuro. A existência é um mistério e cada um tenta fazer as verdades funcionarem pra si. Nada é tão interessante quanto buscar o eu perdido dentro da gente, ouvir nossa própria voz e ter certeza que o infinito é nosso, que as verdades que a gente cria funcionam pra gente, que as possibilidades podem ser enormes e ao mesmo tempo nulas, pois vivemos um paradoxo que não tem como entender. Somos matéria, sangue vivo, voz abafada, sentimentos velados, sorrisos de canto e choro segurado. Precisamos de algo em que nos apegar, porque a vida é uma passagem, se não fosse pra tentar ser feliz ou tentar criar algo que seja importante, ou mesmo ser importante pra alguém, a gente não estaria aqui.