sábado, 28 de novembro de 2020

dor

Texto escrito em 15 de abril de 2017


 Tem horas que a gente sente uma dor tão grande na alma que o corpo parece querer expelir, com força, com toda a energia que ele não tem mais. A gente passa por tanta coisa na vida né, e os ais de uma pessoa são completamente diferentes de outras e eu me pergunto se eu posso mesmo sofrer sendo que tem gente que tá sofrendo mais que eu. Tem gente que não tem uma cama pra deitar e chorar. Mas eu mesma me respondo, no meio do desespero do meu coração acelerado sem motivo, eu me respondo que eu posso ter criado o meu sofrimento, mas ele não é meu, não faz parte de mim, e eu sofro porque eu não consigo fazer com que ele vá embora e apesar de tanta gente estar sofrendo pra porra porque não tem comida pra amanhã, eu aqui dentro de mim, não estou me aguentando agora. Meu coração quer vomitar, minha alma quer vomitar, não consigo nem chorar e nem pedir socorro, eu tô presa em mim e esse sofrimento eu não escolhi, eu não desejei e quero que ele vá embora. Eu acho que a gente tem que falar o que sente, exatamente quando sente, porque quando passa, a importância não é mais a mesma, o sofrimento aumenta e a gente não tem o que fazer, a não ser suplicar a qualquer força superior que esteja ouvindo que sare essa dor.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

2 de novembro

 Hoje não brinquei com meu cachorro, não fui ver meu afilhado, não fui ao cemitério colocar flores, não fiz nada do que era pra ter feito.

Voltar a escrever está me dando gatilho, é só isso que se fala atualmente, estamos no fim de 2020 e gatilho é a palavra chave.

Hoje meu irmão faz aniversário.

Sinto que por eu não ter feito nada do que era pra eu ter feito no dia de hoje eu sou menos gente. E não sei onde termina ou começa, só vou deixando as coisas irem, como se  pegasse areia fina nas mãos.

Eu não queria sentar com meus pais, eu não queria ficar conversando com meus amigos, não queria ler, não queria nada do que é pra ser querido. Eu não queria e esse não querer grita tão alto, eu nem sei lidar.

 Eu nem rezo mais. Nem sei mais o que é sentir um lampejo no coração quando faço uma oração, porque já não faço mais.

Não sinto saudades do que já fui, mas sinto que eu me perdi, sinto que não me sou mais. Eu costumava ter uma cadência de acontecimentos, costumava ponderar as expectativas, e também era muito engraçado quando eu imaginava coisas e apenas por imaginar, elas não aconteciam. 

Hoje eu não sei mais. Me jogar do abismo é o mesmo que ficar onde estou, onde começa e acaba, onde parece não existir mais verdades ou sentidos.

Não sei se é sobre expectativas, não sei se é sobre desejos, não sei sobre o que é. As palavras me saem choradas, parece que tô arrancando com foice e ao contrário do que também pensei, não tá doendo, mas tá cortando. É como sentir aquela dorzinha no ombro e apertar pra doer mais. Parece que é um novo término que pode ser mais um começo. Eu não sei direito.

terça-feira, 5 de maio de 2020

sentiu?

para encontrar sentido
eu me perco no vício
busco sair de mim no mesmo lugar
busco encontrar a cadência no mudo
dou lugar ao pranto, mas ele não vem
para encontrar o sentido
eu miro naquela memória
de tudo o que vivemos e que não existe mais 
agora, afogada nas lágrimas que ainda não caíram
eu respiro e fuço, escarafuncho, meto a broca
o sentido some aos poucos, por que ele está debaixo
das coisas que passaram, dos universos descobertos depois
então o que urde, o que fala mais alto sempre parece vão
já que o necessário está escondido
e todos os dias ele quer ser buscado
quer ser encontrado
e para isso, ele sempre se esconde
o caminho é que faz a descoberta
o que acontece entre os acontecimentos é o que dá à luz 
o permanecer é inconstante, porque na verdade, ele não existe
o vício não diz nada, o pranto não diz nada
o sentido não está em encontrar
está em procurar

quarta-feira, 29 de abril de 2020

completamente desnecessária

Eu sei que eu tô errada e por isso não quero pedir a opinião de ninguém pra confirmar que tô errada. O privilégio de estar bem é ótimo, ter saúde e etc é uma coisa bem importante. Mas estar errada é difícil. Estar errada e ter que engolir isso sem nenhuma cervejinha é mais difícil ainda.
Mas essas ideias inconclusivas existem pra me provar que estou errada, que preciso assumir meu erro e preciso arrumar um jeito de sair disso com o mínimo de sequelas possível. Apesar de que, como minhas ideias andam cada vez mais inconclusivas, as sequelas são inevitáveis e voltamos para a parte de admitir que tô errada, e não quero. 
Daí não quero falar, quero chorar, mas aí alguém vai perguntar o que eu tenho daí vou ter que falar, tudo bem que posso só acenar e dizer que não quero falar, mas vou causar um boom desnecessário, também não quero.
Que raiva.

terça-feira, 14 de abril de 2020

antissocial na quarentena


Ser antissocial tem as suas vantagens, principalmente em tempos de isolamento. Mas comecei a sentir alguns vestígios de vontade louca de sentar na mesa de bar com meus amigos e sair de madrugada porque o bar fechou e a dona ta puta comigo pedindo pra eu parar de gritar. De leve a sensação. Além do mais, me despertou também a vontade de me declarar, de expressar mais e xingar, falar na cara que “vocês não estão respeitando o isolamento, vocês são burros, irresponsáveis e inconsequentes” e continuar sendo ignorada como boa antissocial que sempre fui, mas acontece.
Talvez assistir Gilmore Girls pela enésima vez não seja também a melhor escolha, escrever cartas e mais cartas e fazer um compilado, que ta mais pra diário de quarentena, ninguém vai querer ler isso, mas queridos, recebam minhas cartas que escrevo com muito sentimento. Pronto, já to falando sozinha de novo, não que isso seja estranho pra mim, mas ouvir meus pensamentos cada dia mais altos me assusta, te assusta também?
Eu não queria que isso estivesse acontecendo, Helena nem se lembra mais de mim, quanto tempo não vejo minha avó e meu afilhado que me é tão caro. Estou definhando aos poucos e minha cara de antissocial está quebrada e jogada no chão, quero contato e quero pessoas, quero ficar conversando até mais tarde, até não saber mais onde o assunto começou. Estou cansada, com sono e aos finais de semana durmo muito e bebo muito. Ah, to bebendo sempre, na geladeira tem vinho, catuaba e cerveja, fora dela tem pinga e tequila. Cuidado pessoal.
Penso que Neia está muito bem, minha outra vó ainda melhor, queria não pensar que as pessoas mortas estão em vantagem, por que é cruel, mas por mais cruel que seja, elas estão melhores, graças a Deus. Que loucura, né. A gente quer viver, quer estar, quer suprir, ao mesmo tempo que a gente se cansa e quer desistir.
Vamos para mais uma rodada de tequila e Big Brother. Hoje é dia de eliminação.