É só
virar a esquina que os homens, aqueles que fazem de tudo para demonstrar
macheza, comecem a “cuspir” elogios asquerosos. Mas, em geral, é só passar,
ninguém vê. Quem vê não fala sobre e acha natural, desde que o mundo é mundo.
Grandes
coisas acontecem quando ninguém está olhando, e coisas maiores ainda acontecem
se as pessoas se derem conta de que é preciso falar sobre elas. É difícil
conseguir tirar todas as raízes do preconceito intrínseco. As palavras de Rousseau
se encaixam bem no momento em que ele diz que “o homem nasce livre, mas a
sociedade o corrompe”, mas queria muito saber onde começam as distinções.
Queria
saber onde está escrito que negro nasceu para ser escravo, que gay é uma
aberração da natureza, que ser pobre é não ter direitos. Essas questões estão
relacionadas a costumes antigos, muito antigos mesmo, desde que se entende como
início da “civilização” a venda de pessoas como escravas. O conceito de valor é
muito esquecido. Mas não quero falar sobre um fato isolado, quero tentar propor
um pensamento coletivo: o de acreditar que é preciso falar por aqueles que têm
as vozes abafadas. Não preciso ser gay para lutar contra a homofobia, não
preciso ser mulher para achar o machismo um absurdo, não preciso ser negra para
não admitir que exista racismo, da forma mais tosca e incoerente.
É
por isso que é preciso falar, não é só se indignar e achar que a causa é
perdida. Abraçar a causa faz parte do nó que junta e nos separa dos nós na
garganta por não poder impedir uma injustiça, por não poder salvar vidas.
Precisamos falar sobre o que sufoca a gente. Falar sobre o que nos inquieta,
trazer para cá as respostas para tantas perguntas que vagam.
Quando
a gente se cala para as injustiças, somos indiretamente coniventes com elas. É
muito fácil ser branco, rico, heterossexual e sudestino (embora o preconceito
seja tão grande contra os nordestinos que ninguém se diz “sudestino”. Só
nomeamos o que é estranho?). É também muito fácil achar que o mundo está
seguindo seu curso normal, as mortes cruéis acontecem por que tem que
acontecer. É muito fácil aceitar calado as atrocidades e torcer para que elas
não cheguem ao meu bairro de classe A.
São
muitas questões a ser defendidas por quem, mais que ter um rótulo, é ser humano.
Não é preciso ser gay para achar que não há nada de errado num relacionamento
entre dois homens. Tampouco é necessário cantar uma mulher na rua – seja ela
bonita ou não, com roupa curta ou comprida – para se sentir “homem”. Você não
precisa também acreditar em Oxalá para achar que a salvação está numa
determinada religião. Por fim, ser branco ou negro, tanto faz, quando antes de
tudo se é humano.
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