segunda-feira, 7 de agosto de 2017

projeções


Quando eu era criança projetava o meu futuro na minha mãe, queria ser como ela, gostava de amarelo por causa dela, gostava de Roberto Carlos que é o cantor favorito dela, vestia suas roupas, queria ser ela. O meu jeito de ser e de fazer as coisas também veio dela, no entanto somos profundamente diferentes. Combinamos em pontos opostos. Somos como a raiz do problema e a solução, é por isso que a gente dá certo. Acho que todo mundo tem alguém em que se projetar, nem que seja pelo corte do cabelo ou pelo tipo de filme que assiste. A gente quer ser alguém na vida, desde que a gente aprende que é preciso ser alguém na vida. Não basta nos espelhar em alguém que amamos e copiar personalidade, é preciso ser e ter mais que isso. O sistema obriga a gente a ser mais, e mesmo assim, por mais alto que se chegue, por mais longe que se vá, nunca é suficiente, o sistema quer mais, quer suor e sangue, quer cabeças rolando, competição, guerras, consumo. Não é preciso ser amante do socialismo pra entender que a gente pode querer outras coisas, que dá pra ser alguém na vida sem seguir um protocolo. Queria que as crianças crescessem acreditando na máxima que ser feliz é o melhor dos objetivos, não que seja pra largar tudo - o que é tudo? - e vender miçanga na praça, mas que se for pra fazer alguma coisa, que seja por amor, que traga felicidade, que ajude as pessoas a cuidar do mundo, que instigue os jovens a lutar por mudanças. Ser alguém na vida a gente já é, o olhar de pena não vai ajudar, as perguntas constrangedoras não vão ajudar, o que ajuda é ter a noção de que podemos ser o que quisermos ser independente de projeções que as pessoas colocam na gente.

Um comentário: